" A verdadeira afeição na longa ausência se prova"

Luís de Camões

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Feliz Ano Novo...de novo?

Mais um recomeço, aliás, que engraçado, tenho a impressão de que o ano está começando agora.
As férias foram boas, mas que bom que chegaram ao fim.
Amanhã começa as aulas na universidade. Terceiro semestre com a corda toda.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CANTO

Não tenho medo da morte
Pássaro noturno
Parceira que me acompanha
Incansável a contar minutos
Para meu fim

Leandro Angonese

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SEMINÁRIO DOS RATOS

“Pior do que a ausência do amor, é a memória do amor.”
Lua crescente em Amsterdã


“Se por acaso alguém tinha pensado em comprar um novo fio dental, por que este estava no fim. Não está, respondi, é que ele se enredou lá dentro, se a gente tirar essa plaqueta (tentei levantar a plaqueta) a gente vê que o rolo esta inteiro mas enredado e quando o fio se enreda desse jeito, nunca mais!, melhor jogar fora e começar outro rolo. Não joguei. Anos tentando desenredar o fio  impossível, medo da solidão? Medo de me encontrar quando tão ardentemente me buscava?”
Noturno amarelo


Em Seminário dos ratos, o leitor é convidado para mais fascinante das travessias: distinções rígidas entre realidade e fantasia, ação intencional e impulso inconsciente, cultura e natureza – tudo, enfim, é dissolvido num horizonte onde formigas podem reconstruir a ossada de um anão; um amor malogrado é preservado pela memória para um futuro incerto; a miséria de uma família de favelados parece esquecida diante de um programa de televisão; ratos não tomam conta apenas de um seminário mas se concentram para deliberar, talvez, sobre o país...

Lygia Fagundes Telles

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

...



Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.


William Shakespeare

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lembranças de morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!
Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!


Álvares de Azevedo

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O EVANGLHO SEGUNDO JESUS CRISTO

"O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo de sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo."

"Sentiu que o calor da mulher, carregado de odores, como de uma arca fechada onde tivessem secado ervas, lhe ia penetrando pouco a pouco o tecido da túnica, juntando-se ao calor do seu próprio corpo. Depois, deixando descer devagar as pálpebras, esquecido já de pensamentos, desprendido da alma, abandonou-se ao sono que voltava."

"O que é que em nós sonha o que sonhamos, porventura os sonhos são as lembranças que a alma tem do corpo, pensou a seguir, e isto era uma resposta."

"Já se sabe que as palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler."

"Nem tu podes fazer-me todas as perguntas, nem eu posso dar-te todas as respostas."

Do livro O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, de José Saramago.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Experimente


A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original.

Albert Einstein

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por quem os sinos dobram

"Quando a gente pensa em excesso num assunto, não pode mais controlar-se, e o cérebro continua na disparada, como um volante que perdeu o governo."


“ mas você não possui casa. Você não tem família senão teu irmão que vai combater amanha, e não possui nada a não ser o vento e o sol e uma barriga vazia. O vento é pouco e não há sol. Você tem quatro granadas no bolso, que só servem para ser lançadas. Você tem, uma carabina às costas, que só serve para atirar balas. Você tem uma mensagem a entregar. E tem os intestinos cheios para despejar na terra. Tudo quanto você tem é para dar. Você é um fenômeno de filosofia e um homem desgraçado.”


Nenhum  homem é ILHA isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE,  uma parte da TERRA se um TORRÃO é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse o SOLAR de teus AMIGOS ou TEU PRÓPRIO;  a MORTE de qualquer homem ME diminui, porque sou parte do GENERO HUMANO.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. JOHN DONNE


Do livro Por quem os sinos dobram ,de Ernest Hemingway.

Martha Medeiros

Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Recordações

      Depois de sair do ensino médio, dei um tempo pra tomar um ar. Amo ler e escrever, mas quando o troço era por obrigação dava uma preguiça, parecia que o cérebro deixava de funcionar, nada fazia sentido, Português se tornava Grego.
     Hoje resolvi resgatar os livros de Português e Literatura, descobri algumas paixões, relembrei outras e encontrei um texto que acho muito bom...
Eis o texto:
MEU PROFESSOR DE ANÁLISE SINTÁTICA
Meu professor de análise sintática era do tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1º conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Paulo Leminski